Imagino um escultor
frente a um bloco de mármore para nele esculpir uma figura. Ele vê aquele bloco
com muita naturalidade porque, ao mesmo tempo, “vê” a figura que está ali
dentro. Então o que ele faz? Com cinzel e martelo ele retira do bloco aquilo
que ainda cobre a imagem e surge uma obra prima. Éramos, inicialmente, um bloco
de barro. O escultor maior eliminou aquilo que não seria autêntico na imagem e
do pó da terra emerge a nobre figura humana, coroa da criação.

Quando assim acontece, deformados em
nossa figura original, o escultor maior retoma as ferramentas e trabalha em nós
para restaurar a imagem divina, afetada pela poluição do pecado (Rm 3.23). Ele
“lava a imundícia (Is 4.4), corta o ramo improdutivo (Jo15.2), corrige a quem
ama (Hb 12.6), e açoita todo filho que recebe, nos disciplina para
aproveitamento, a fim de sermos participantes de sua santidade”(Hb 12.6ss).
Este trabalho de restauração, ele o faz
contínua e diariamente pela Palavra – o seu cinzel e martelo. Já havia
prometido em Jeremias: “Te restaurarei a saúde e curarei as tuas chagas” (Jr
30.17). E o salmista confirma: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o
testemunho do Senhor é fiel e da sabedoria aos simples” (Sl
19.7). Diversos são os apelos da Palavra: “Não vos conformeis com
este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
“Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, limpai o
coração” (Tg 4.8). E na tribulação seu martelo bate forte, “sabendo que a
tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência,
esperança” (Rm5.3,4). Mesmo batendo forte “é socorro bem presente na
tribulação” (Sl 46.1), fortalecendo a alma a fim de “permanecermos firmes na fé” (At 14.22).
Eis porque o evangelista João,
inspirado, exalta e resume esta obra de restauração do divino escultor, nestas
maravilhosas palavras de consolo, fé e salvação: “Porque Deus amou o mundo de
tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Esculpidos e sempre restaurados,
cantemos com o salmista: “Louvar-te-ei Senhor, de todo o meu coração; cantarei
todas as tuas maravilhas” (Sl 9.1).
Guido Rubem Goerl - Pastor emérito da IELB.